O VENTO FORTE POR TRÊS
CAUSAS E EM TRÊS MOMENTOS
O cenário meteorológico no Rio Grande do Sul e no
Cone Sul é bastante complexo e a gente na MetSul se esforça em tentar explicar
ao público, sendo impossível evitar certos tecnicismos por, afinal, se tratar
de uma ciência. Já ventou forte na minha cidade, isso significa que passou o
risco do ciclone? Vem mais vento? Vamos tentar entender juntos? São três
situações distintas causando ventania no Estado entre ontem e amanhã.
Primeira, uma
corrente de jato em baixos níveis da atmosfera, uma espécie de corredor de
vento forte a cerca de 1500 metros de altitude que se origina na Bolívia e
desce até o Rio Grande do Sul, atuou no final da segunda-feira e na madrugada
de hoje no Estado com vento Norte muito intenso, o que trouxe também
temperatura acima de 30ºC em algumas cidades na madrugada. Essa corrente se
forma e se intensifica à medida que se aprofunda um centro de baixa pressão, no
caso o que deu origem ao ciclone no Prata. Essa corrente de jato já era,
dissipou-se sobre o Estado com o deslocamento da frente fria. No caso de Santa
Maria, onde este tipo de fenômeno traz consequências maiores que o vento do
ciclone, o pior já passou.
Segundo, a frente
fria (região de instabilidade entre as massas de ar frio e quente) foi o que
trouxe vendavais em algumas cidades em ocorrências de temporais, caso de
Jaguarão (91 km/h) e Porto Alegre (89 km/h). O vento forte, numa frente fria,
ocorre quando ela chega e se dá a rápida troca de massas de ar. Como ela já
chegou, o vento dela também já era na maior parte do Rio Grande do Sul, ocorreu
o que tinha que dar.
Terceiro, e o que
ainda não ocorreu mas ocorrerá, é o vento do ciclone. O sistema já está formado
(imagem de satélite) e vai trazer vento muito intenso, acima de 100 km/h com
rajadas de 120 km/h a 140 km/h, no Uruguai no final do dia e amanhã, à medida
que se desloca para Norte e Nordeste. Também no final do dia e amanhã o vento
volta a aumentar no Rio Grande do Sul por efeito do ciclone com rajadas, em
média, de 60 km/h a 80 km/h na maioria das cidades gaúchas, inclusive na área
de Porto Alegre, mas que pode passar de 100 km/h em pontos do Sul do Estado,
das lagoas, na faixa costeira e dos Aparados. Por isso, nestas áreas com chance
de vento intenso a ventania mais intensa ainda está por vir.
Em resumo, o quadro
de tempo severo que experimentamos é um evento de três dias. Estamos no começo
do segundo. Teve início ontem com temporais de granizo e vento forte de Norte,
segue hoje com chuvarada e vento, e prossegue amanhã com sol e vento forte no
Rio Grande do Sul. (Meteorologista Luiz Fernando Nachtigall)
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