Imagem da Operação Pulso Firme, em 2017, quando Fábio do Gás e outros detentos foram transferidos ao Sistema Penitenciário Federal
Um detento que seria o principal líder do tráfico na região Sul do estado foi transferido, nesta sexta-feira, ao Sistema Penitenciário Federal.
A transferência ocorreu após a 1ª Vara de Execuções Criminais do Foro Central de Porto Alegre atender a um pedido do Ministério Público do RS (MPRS). Antes disso, o homem de 46 anos cumpria pena na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Conhecido como Fábio do Gás, o presidiário é tido pela Polícia Civil como responsável por comandar a venda de entorpecentes em Rio Grande. Preso em 2015, ele soma mais de 50 anos em condenações por tráfico e homicídio.
O presidiário deverá cumprir pena na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ele já havia sido enviado ao estabelecimento em 2017, no âmbito da Operação Pulso Firme, mas retornou ao território gaúcho no ano seguinte.
De acordo com o advogado José Alberto Correa Coutinho Júnior, responsável pela defesa do preso, essa foi a terceira vez que o MPRS solicitou a transferência dele ao sistema federal. O pedido teria como base uma guerra do tráfico, ocorrida entre 2021 e 2022, que deixou mais de 150 mortos em Rio Grande.
"A acusação diz que Fábio teria poder para evitar o conflito, porque supostamente seria líder de uma das facções envolvidas. A tese do MPRS é que, por uma questão de hierarquia, ele poderia ter dado ordem para frear a ação dos subordinados. Ocorre que isso não faz sentido, uma vez que estão delegando para uma pessoa a culpa de terceiros. Prova disso é que em dez processo referentes ao conflito, Fábio foi impronunciado em sete”, destacou José Alberto Coutinho.
Ainda conforme a defesa, que vai recorrer da transferência, Fábio do Gás não está mais envolvido com o crime organizado. A virada de chave teria acontecido durante a passagem anterior dele na Penitenciária Federal de Mossoró, em 2017, quando ele passou por uma conversão religiosa.
"Todos os crimes pelos quais ele é acusado são antigos. Na outra ocasião em que esteve em Mossoró, ele foi o primeiro detento gaúcho a se tornar evangélico. Vamos recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que ele possa retornar ao RS”, enfatizou o advogado.
Entenda a guerra do tráfico em Rio Grande
O estopim do conflito foi um suposto plano de fuga da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), revelado em outubro de 2021. Na ocasião, um papel com a estratégia foi localizado dentro de um veículo, no acostamento da ERS 401, contendo detalhes sobre um hipotético resgate de Fábio do Gás’.
Mesmo após a comoção gerada na época, entretanto, não foi preciso mais de um mês de investigação para que a Polícia Civil concluísse que o documento se tratava um falso complô.
A farsa teria sido armada por uma facção com base no Vale do Sinos, mas que também criou ramificações no Sul gaúcho. O estratagema era mirabolante e cinematográfica, com direito a ataques com indivíduos fortemente armados, explosões de posto de combustível e até o uso de um helicóptero. A possibilidade disso acontecer, naturalmente, era irreal.
O objetivo seria incriminar Fábio do Gás, apontado como líder do tráfico em Rio Grande, para forçar a transferência dele a um presídio federal. Isso porque a facção com origem no Vale do Sinos pretendia manter o detento fora do estado e, a partir da ausência dele, tomar o controle do tráfico no município.
A descoberta do esquema foi o início de uma guerra que deixou cerca de 150 mortos em dois anos. No final, de acordo com a Polícia Civil, a quadrilha do Vale do Sinos não conseguiu obter o controle do tráfico de drogas em Rio Grande.
Marcel Horowitz/Correio do Povo
Evaldo Gomes Notícias/Canguçu
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