ZH fez
uma reportagem equilibrada sobre moradores de rua abordados pelo 9º BPM. A
matéria publicada no dia 18 de abril suscitou manifestação da designer Kátia
Ozório classificando o trabalho da Brigada como uma ação equivocada, em artigo
veiculado no jornal Zero Hora no dia 19 de abril. A leitura da opinião da
designer me fez lembrar da música do Chico Buarque Geni e o Zepelim.
A
Brigada atende todo mundo, nas mais diferentes situações. Além do policiamento
ostensivo que procura fazer mesmo com pouquíssimas viaturas, brigadianos e
brigadianas em número cada vez menor, estas as verdadeiras razões que fazem as
pessoas esperarem, atende desde ocorrências policiais até os casos mais inusitados.
Faz parto em viaturas quando faltam ambulâncias. A Brigada leva pessoas doentes
para os hospitais, não cobra corrida e o paciente que chega ao hospital
acompanhado da polícia normalmente é atendido.Requisitada nas emergências, doa
sangue aos enfermos. Pega jacaré em quintal. Captura cobra dentro de casa. Vive
prendendo bandidos, diariamente, que voltam às ruas na semana seguinte. Socorre
pessoas acidentadas. Combate incêndios. Mergulha nas piores condições para
procurar afogados. Salva incontáveis vidas nos verões ensolarados. Embrenha-se
nos matos procurando desaparecidos. Já dirigiu ônibus e caminhão de lixo em
Porto Alegre, em greves das categorias. Participa das Forças da ONU, em missões
de paz. Vela seus inúmeros mortos tombados no combate ao crime.
Certa
feita, estava de serviço junto ao 190 e uma atendente me passa uma ligação, na
qual uma senhora pergunta se posso mandar uma viatura na casa dela para
desligar o forninho do seu fogão. A senhora visitava uma amiga na zona norte de
Porto Alegre e morava no Lami. Havia esquecido o forninho ligado e deixado a
chave da sua casa na vizinha, que não tinha telefone. Mandei a viatura!
Nos
arredores de Santa Maria e Itaara chamam a Brigada para atender fenômenos
envolvendo discos voadores. No interior de nosso Estado, também chamam a
Brigada para caçar "chupa-cabras pampeiros" e outras feras que atacam
ou dilaceram animais domésticos. Casa mal assombrada ou algum demônio que rouba
o sossego público, ladrões de cemitério, lá também está a Brigada caçando os
fantasmas.
Chamar
a Brigada para tirar mendigo da rua, é mais uma, entre mil missões em que a BM
responde presente. Uma simples leitura do Decreto-Lei 3.688 de 03/10/1941 - Lei
das Contravenções Penais, artigos 37, 42, 59, 60, 61, 62 e 68, que tratam de
perturbação do sossego alheio, mendicância, vadiagem, embriaguez, ofensa ao
pudor, sujeira em lugar de acesso público, recusa de identidade,
independentemente dos antecedentes criminais da pessoa abordada, dão amparo
legal à BM para atender aos chamados das pessoas importunadas por moradores de
rua, que também respeitamos.
Em
meus 22 anos de Brigada, só testemunhei a corporação recusar uma
"ocorrência". Era Semana da Pátria e alguém resolveu fazer cocô no
palanque. Chamaram um soldado da Brigada para limpar. O soldado chegou, olhou
para a "evidência" e arrematou com toda calma: "É com o
DMLU!" Deu as costas e voltou para o patrulhamento no seu posto.
É por
tudo isso que foi inevitável sentir um grande desconforto cultural como
policial, ao ler a opinião da dona Kátia Ozório, opinião que me fez lembrar de
imediato a letra da música do Chico e de todo o seu contexto, comparando-a com
as missões de polícia e reescrevendo-a em minha mente: "Joga pedra na
Brigada, Ela é feita pra apanhar, Ela é boa de cuspir, Ela atende qualquer um,
Maldita Brigada"!
Aroldo Medina - Zero Hora 24/04/2008