A soldado era formada em Fisioterapia pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e cursava pós-graduação em Fisiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Junto aos estudos, ela vivia o sonho de atuar no Pelotão de Operações Especiais (POE), atual Força Tática, do 23º BPM.
O comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Rio Pardo (CRPO/VRP), coronel Giovani Paim Moresco, destaca que Marciele foi pioneira no pelotão de elite. De acordo com o oficial, ela tinha personalidade sensível, mas também sabia agir com contundência se necessário.
"Ela foi uma das primeiras mulheres a ingressar na Força Tática do 23º BPM. Era uma menina muito meiga e querida por todos, mas também sabia ser forte. E não me refiro à força física, e sim firmeza moral”, afirmou o coronel Moresco.
Carmen Lúcia Kappel relembra que a filha partiu fazendo o que gostava, ao lado dos colegas, em um ato de bravura. Ela também alerta para os perigos enfrentados diariamente pelos policiais, que arriscam a vida em serviço, mas por vezes não têm o reconhecimento devido.
“Para mim, ela foi uma heroína. Não pensou duas vezes em defender as pessoas, com trabalho e dedicação imensa. Hoje em dia carrego no meu coração a imagem de quando ela ia viajar, o que adorava. As vezes falo alto e digo ‘bah, tá demorando demais essa viagem, estou com muita saudade’.
"Acho também que cada vez está mais perigoso. Seja na cidade ou no interior, os policiais saem e deixam suas famílias, sem saber se vão voltar. Acho que eles deveriam ser mais valorizados. As pessoas só reclamam e não pensam que ali também está um ser humano”, pontuou.
Carmen Lúcia encontra na memória da filha o impulso para ajudar crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Também a reconforta o convívio com o efetivo do 23º BPM, onde estão os amigos e colegas de Marciele.
"Não desejo para ninguém perder um filho, dói muito, mas temos que transformar a dor em algo que ajude o outro. Nunca quis saber que aconteceu com os bandidos. Penso que eles não tiveram a sorte que minha filha teve, de poder ser feliz, estudar, trabalhar, ter uma mãe e família presente, ela sempre foi e será muito amada. Quando posso, procuro estar com pessoal da BM, colegas e amigos dela, porque parece que ficou um pedacinho dela ali, em cada olhar, cada risada.
"Falamos dela hoje naturalmente porque, afinal, ela existiu e existe, e ficaram em nossas vidas os ensinamentos e a vontade de viver, crescer e ser feliz que ela tinha. Meus filhos e meu marido sabem que vivo um dia de cada vez desde então, e está tudo certo. Peço todos dias em minhas orações que proteja sempre o pessoal [da BM] que vai para as ruas, e que bom que eles existem.
"Que ela fique na memória de todos, que as crianças e jovens tenham chance de ser felizes, estudar, ter famílias presentes. Só assim vamos tirar eles das ruas”, disse Carmen Lúcia.
Evaldo Gomes Notícias/Canguçu
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